Transtorno de Personalidade Borderline
- Dr. Edgar H. Neto
- 29 de jun. de 2023
- 6 min de leitura
Quando a vida é uma verdadeira montanha-russa emocional.
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Eu, com minhas tendências bipolares, minha personalidade borderline; vivo num distúrbio caótico repetitivo, que insisti em me despersonalizar, me roubando de mim, sequestrando meus dias, deixando tudo padecer numa sequência de tédio, e minh’alma jazir num vazio crônico eterno. (Ludmila T. Arruda)
O Transtorno de Personalidade Borderline, também conhecido como Transtorno de Personalidade Limítrofe, é um transtorno de saúde mental caracterizado por padrões persistentes de instabilidade emocional, relacionamentos interpessoais tumultuados, autoimagem instável e impulsividade. Esses padrões geralmente começam na adolescência ou início da idade adulta e podem causar sofrimento significativo e dificuldades nas áreas pessoal, profissional e social.
As pessoas com transtorno de personalidade borderline geralmente experimentam uma intensa e instável gama de emoções, como raiva, tristeza, ansiedade e desespero. Elas podem ter dificuldade em regular suas emoções, o que pode levar a mudanças rápidas de humor e reações emocionais intensas a estímulos externos.
Os relacionamentos interpessoais são frequentemente marcados por instabilidade. As pessoas com transtorno de personalidade borderline podem idealizar intensamente alguém em um momento e, logo depois, desvalorizá-lo, alternando entre sentimentos de adoração e rejeição. O medo intenso do abandono e a sensação de vazio emocional podem contribuir para dificuldades em manter relacionamentos saudáveis e estáveis.
A autoimagem das pessoas com transtorno de personalidade borderline tende a ser instável e fragmentada. Elas podem ter uma falta de identidade estável e uma sensação de vazio interior. Isso pode levar a comportamentos impulsivos, como gastos excessivos, comportamento sexual de risco, abuso de substâncias, compulsões alimentares e autolesões.
A impulsividade é outra característica do transtorno de personalidade borderline. As pessoas afetadas podem se engajar em comportamentos impulsivos, como gastar dinheiro de maneira irresponsável, ter relações sexuais sem proteção, abusar de substâncias ou se envolver em comportamentos perigosos ou prejudiciais.
A instabilidade emocional das pessoas com transtorno de personalidade borderline também é outra marca. As pessoas tendem a ter emoções intensas e flutuantes. Elas podem experimentar mudanças rápidas de humor, passando de extremos de alegria para tristeza, raiva ou ansiedade em curtos períodos de tempo.
Sintomas Borderline
Alguns dos sintomas comuns do transtorno de personalidade borderline incluem:
Mudanças rápidas e intensas de humor.
Sentimentos crônicos de vazio e solidão.
Medo intenso de ser abandonado ou rejeitado.
Relacionamentos intensos e instáveis, alternando entre idealização e desvalorização de pessoas próximas.
Comportamentos impulsivos, como gastos excessivos, abuso de substâncias, compulsões alimentares ou comportamento sexual de risco.
Automutilação ou comportamento suicida.
Raiva intensa e dificuldade em controlar a raiva.
Sensação de despersonalização ou desconexão da própria identidade.
É importante observar que cada pessoa com transtorno de personalidade borderline é única, e os sintomas podem variar em gravidade e expressão individual. Além disso, outras condições de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtornos alimentares, podem estar presentes em conjunto com o transtorno de personalidade borderline.
Causa do Borderline
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) tem uma etiologia multifatorial, ou seja, resulta da interação de diversos fatores. Embora não haja uma causa única para o TPB, os seguintes fatores têm sido associados ao seu desenvolvimento:
Predisposição Genética: Existe uma tendência para o TPB ter um componente genético. Estudos com gêmeos sugerem que a hereditariedade desempenha um papel na vulnerabilidade ao transtorno. No entanto, os genes específicos envolvidos ainda não foram identificados.
Fatores Ambientais e Experiências Traumáticas: Traumas na infância, como abuso físico, sexual ou emocional, negligência, separação precoce de figuras de apego ou exposição a um ambiente familiar disfuncional, podem contribuir para o desenvolvimento do TPB. Essas experiências adversas podem afetar o desenvolvimento emocional, a regulação afetiva e a formação de relacionamentos saudáveis.
Disfunções Neurobiológicas: Alguns estudos indicam que pessoas com TPB podem apresentar diferenças na estrutura e função cerebral, especialmente nas áreas relacionadas ao processamento emocional, controle de impulsos e regulação afetiva. Desequilíbrios em neurotransmissores, como serotonina e noradrenalina, também podem estar envolvidos.
Vulnerabilidades Temperamentais: Algumas características de personalidade, como alta sensibilidade emocional, impulsividade e instabilidade emocional desde a infância, podem tornar uma pessoa mais propensa ao desenvolvimento do TPB.
É importante enfatizar que o TPB é uma condição complexa e que a interação desses fatores de risco é única para cada indivíduo. Não é possível atribuir uma causa específica a todos os casos de TPB, pois a combinação desses fatores varia de pessoa para pessoa. Além disso, nem todas as pessoas expostas aos mesmos fatores desenvolverão o transtorno.
Os traços de personalidade e o Borderline
Os traços de personalidade desadaptados podem ter uma relação com a origem do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), pois muitos dos traços desadaptativos podem ser observados em indivíduos com TPB.
Os traços de personalidade desadaptados referem-se a características de personalidade que estão fora do espectro considerado saudável. Esses traços podem estar presentes em várias pessoas sem que elas cumpram todos os critérios para um transtorno de personalidade específico, embora, sejam diagnosticáveis se os traços específicos do transtornos estiverem presentes e com o nível de gravidade exigido pelo diagnóstico dimensional, e não só categórico, conforme DSM-5: Proposta Dimensional de Diagnóstico de Transtornos de Personalidade.
É importante observar que os traços de personalidade desadaptados podem ser não somente uma indicação inicial ou um fator de risco para o desenvolvimento de um transtorno de personalidade, incluindo o TPB, mas também a causa de existência e a causa diagnóstica. Além disso, os traços desadaptados podem interagir com outros fatores, como predisposição genética, experiências traumáticas ou desregulação emocional, que podem contribuir ainda mais para a manifestação do TPB.
Borderline e TDAH
É possível que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) coexistam como comorbidades. Comorbidade significa que duas ou mais condições de saúde mental estão presentes em uma mesma pessoa ao mesmo tempo.
Estudos sugerem que existe uma sobreposição significativa entre o TDAH e o TPB. Embora sejam transtornos distintos, algumas pessoas com TDAH também apresentam traços ou sintomas de TPB e vice-versa.
A impulsividade e a desregulação emocional são características que podem estar presentes tanto no TDAH quanto no TPB, o que pode contribuir para a coocorrência dessas condições. Além disso, tanto o TDAH quanto o TPB podem afetar a atenção, a concentração e a capacidade de autorregulação emocional.
Nos termos da origem, uma criança nasce com o TDAH, enquanto pode adquirir o Borderline no contexto de comorbidade quando estiver iniciando a sua fase adulta.
A existência de uma comorbidade entre TDAH e TPB pode complicar o diagnóstico e o tratamento, pois as características de ambas as condições precisam ser abordadas.
Borderline e Bipolaridade
É possível que o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) coexista com o Transtorno Bipolar (TB) como comorbidades. O TB é um transtorno de humor caracterizado por episódios de mania e depressão, enquanto o TPB é um transtorno de personalidade que envolve instabilidade emocional, relacionamentos interpessoais turbulentos e impulsividade.
Embora sejam transtornos diferentes, existem algumas sobreposições e semelhanças entre o TPB e o TB. Ambos os transtornos podem apresentar flutuações de humor intensas e impulsividade. Além disso, a desregulação emocional presente no TPB e os sintomas de mania e depressão do TB podem se assemelhar em alguns aspectos.
A existência de comorbidade entre TPB e TB pode tornar o diagnóstico e o tratamento mais complexos.
Borderline, TDAH e Bipolaridade: comorbidade
É possível que o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Bipolar (TB) coexistam como comorbidades em uma mesma pessoa. Essas condições de saúde mental são distintas, mas algumas pessoas podem apresentar uma sobreposição de sintomas e características relacionadas a esses transtornos.
A coocorrência dessas três condições pode complicar o diagnóstico e o tratamento, uma vez que cada uma delas requer atenção e abordagens específicas. A combinação do TPB, TDAH e TB pode levar a uma maior instabilidade emocional, flutuações de humor, impulsividade, dificuldades de atenção e relacionamentos interpessoais turbulentos.
Pessoas com os três transtornos ao mesmo tempo sofrem mais e se tornam mais disfuncionais considerando a existência de um número maior de transtornos com sintomas diferentes e parecidos ao mesmo tempo proporcionando uma espécie de potencialização em temos de danos dos sintomas.
Diagnóstico
O diagnóstico do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é realizado por profissionais de saúde mental, como psiquiatras ou psicólogos, com base em critérios específicos estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria.
É importante ressaltar que o diagnóstico do TPB deve ser feito por um profissional de saúde mental experiente, que leve em consideração a complexidade e a subjetividade dos sintomas. O tratamento adequado e o suporte apropriado podem ser fornecidos após um diagnóstico preciso.
Tratamento do Borderline
O tratamento é realizado via psicoterapia e fármacos.
Terapia focada em esquema: é uma terapia integrativa que combina a terapia cognitivo-comportamental, teoria do apego, conceitos psicodinâmicos e terapias focalizadas em emoções. Ela foca em padrões mal-adaptativos ao longo da vida de pensar, sentir, comportar-se e de enfrentamento (chamados esquemas), técnicas de mudança afetiva e na relação terapêutica, com reparentagem limitada. Repaternagem limitada representa o estabelecimento de um vínculo seguro entre o paciente e o terapeuta (dentro dos limites profissionais), permitindo que o terapeuta ajude o paciente a vivenciar o que o paciente perdeu durante a infância que o levou a um comportamento mal-adaptativo.
Fármacos: antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos.
Antidepressivos: eficazes para depressão e ansiedade.
Estabilizadores de humor: para depressão, ansiedade, labilidade de humor e impulsividade.
Antipsicóticos atípicos (de 2ª geração): para ansiedade, ira, instabilidade do humor e sintomas cognitivos, incluindo distorções cognitivas transitórias relacionadas com o estresse (p. ex., pensamentos paranoides, pensamento maniqueísta, desorganização cognitiva grave).
Observação: Benzodiazepínicos e estimulantes não são recomendados por causa dos riscos de dependência, overdose, desinibição e uso inadequado.
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Dr. Edgar H. Neto é Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo.
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